terça-feira, 28 de dezembro de 2010

De felicidade, todo mundo tem um pouco.

Houve um tempo em que minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto.

Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e,
em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual,
para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas,
para o homem,
para as gotas de água que caíam de seus dedos magros
e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.

Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar,
cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela,
uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas,
e outros, finalmente,
que é preciso aprender a olhar,
para poder vê-las assim.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Canção pra quando você voltar

Quando o sol de cada dia entrar
Chamando por você, querendo te acordar,
Vai ter sempre alguém pra receber,
Dizer pra esperar, voce ja vai chegar
Alguém pra olhar a casa
E alguém que regue o seu jardim até você voltar
E, como é normal acontecer,
Se num entardecer a dor te visitar,
Vai ter sempre alguém pra socorrer
Fazer o seu jantar, dormir no seu sofá.
Enquanto a noite passa por mim
Eu rego o seu jardim
Você já vai voltar.